quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Programete 37: Euclides da Cunha – IV – Em Canudos


Euclides da Cunha atuou como corresponde da guerra de Canudos para o jornal O Estado de São Paulo no ano de MIL OITOCENTOS E NOVENTA E SETE. Ele relatou quase diariamente o que via e o que ouvia. Depois de TRINTA dias da saída de São Paulo, ele parte de Salvador para o sertão baiano. 

O caminho é longo, Euclides passa por algumas cidades e vilarejos: 

Alagoinhas, Queimadas, Tanquinho, Cansanção, Quirinquinquá e Monte Santo. 

Durante a viagem, o jornalista se fascina com a flora do lugar e cita os nomes das diversas espécies de plantas da região: 

cabeça-de-frade, umburanas, quixabas, juremas, macambiras, icó, mandacarus, cansanção, favela, entre outras. 

Há também informações sobre o conflito. No dia TRÊS de setembro, o repórter relata o encontro com alguns prisioneiros e evidencia o horror da guerra: 

O menor de todos, chama-se José. Assombra: traz à cabeça, descendo-lhe até os ombros, um boné de soldado. O boné largo e grande demais oscila a cada passo;...... a boca é uma chaga, foi atravessada por uma bala! 

No dia DEZ de setembro, Euclides chega ao centro do conflito, o arraial de Canudos. As reportagens se tornam verdadeiras narrativas de ação descrevendo a guerra que ali existia. 

Quando grande parte do Arraial já estava dominado, Euclides visitou as humildes casas e ficou chocado com tamanha miséria: 

…não se compreende a vida dentro dessas furnas escuras e sem ar, tendo como única abertura, às vezes, a porta estreita da entrada e cobertas por um teto maciço e impenetrável de argila sobre folhas de icó! 

A admiração de Euclides aos sertanejos estava presente em seu texto, sempre os caracteriza como fantásticos e bravos. E por sentimento de culpa ou de pena afirma em um trecho que o certo a fazer é incorporá-los: 

Sejamos justos- há alguma coisa de grande e solene nessa coragem estóica e incoercível, no heroísmo soberano e forte dos nossos rudes patrícios... 

A última reportagem é a narração do combate sangrento do dia PRIMEIRO de outubro. O exército perdeu generais importantes e o número de baixas era enorme. O repórter chega a comparar a visão do hospital com o inferno de Dante e descreve a situação mórbida do local: 

Sem espaço mais, dentro das amplas barracas, os feridos acumulavam-se, fora, no chão ensanguentado, sob o cáustico abrasado de um sol inclemente e fulgurante, atordoados pelos zumbidos agourentos e incômodos das moscas, fervilhando em número incalculável. 

A guerra chegou ao fim no dia CINCO de outubro, com a destruição completa do arraial e o degolamento de todos os prisioneiros. A República venceu, cometeu uma de suas maiores atrocidades da nossa história. 

Apesar do seu fervoroso posicionamento a favor da República, Euclides realizou uma enorme contribuição para o jornalismo brasileiro. Seu precioso diário de expedição também o inspirou posteriormente a escrever a grande obra brasileira Os sertões. 

Euclides da Cunha foi uma verdadeira testemunha ocular da História. 

Texto: Marina Fontanelle
Fonte: Giovani Vieira e Marina Fontanelli

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