Nos textos jornalísticos JOÃO DO RIO mostrou diferentes grupos sociais do RIO DE JANEIRO do começo do século vinte. Percorrendo ruas, becos, ladeiras, atalhos, desde a periferia até as avenidas centrais, o redator traçou o universo urbano da capital do país. Inclusive a faceta sem “glamour”, onde a pobreza e os marginalizados sociais ganhavam o papel principal.
Na crônica OS TRABALHADORES DE ESTIVA o autor descreve:
“Homens de excessivo desenvolvimento muscular, eram todos pálidos – de um pálido embaciado como se lhes tivessem pregado à epiderme um papel amarelo, e assim, encolhidos, com as mãos nos bolsos, pareciam um baixo-relevo de desilusão, uma frisa de angústia.”
No livro, A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS aparecem as prostitutas:
“Pelas calçadas, paradas às esquinas, à beira do quiosque, meretrizes de galho de arruda atrás da orelha e chinelinho na ponta do pé...”
A vida dos pobres no morro, em sua forma precária e bucólica, também recebeu a atenção do jornalista, com nesta passagem de AS RELIGIÕES DO RIO, DE 1905:
“Pelas pedras do morro iam homens carregando baldes de água; mulherios estendiam roupas na relva; embaixo, a cidade num vapor branco parecia uma miragem sob o chuveiro de luz. Em torno do convento saltavam cabras”.
Na crônica O SONO DA MISÉRIA, publicada no jornal a Gazeta de Notícias, em 1904, temos o retrato de um lugar de pouso, popular e barato. Ali, dormiam trabalhadores de todos os tipos, somados a bêbados, malandros e criminosos:
"Trepamos todos por uma escada íngreme. O mau cheiro aumentava. Parecia que o ar rareava, e, parando um instante, ouvimos a respiração de todo aquele mundo... Era a seção de quartos reservados e a sala de esteiras. Os quartos estreitos, asfixiantes, com camas largas antigas e lençóis por onde corriam percevejos. A respiração tornava-se difícil. Completamente nua, a sala podia conter trinta pessoas, à vontade, mas tinha pelo menos oitenta nas velhas esteiras atiradas ao soalho”.
Assim, JOÃO DO RIO foi além do Rio de Janeiro da idealizada e glamourosa BELLE ÉPOQUE Carioca, mostrando a faceta obscura de uma cidade no auge de sua modernização e progresso.
Texto: Ana Carolina Costa
Locução: Eleide Bérgamo e Giovani Vieira
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