quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Programete 35: Euclides da Cunha – II - “A Nossa Vendéia”


O trabalho de Euclides da Cunha como jornalista sempre foi incisivo na propagação da ideologia republicana. Um episódio importante para reforçar esse ideal foi a guerra de Canudos. 

O conflito começou no ano de MIL OITOCENTOS E NOVENTA E SEIS. Porém, a euforia se deu no ano seguinte quando chega, ao eixo Sul do país, a notícia da morte do capitão Moreira César que comandava a terceira expedição incumbida de acabar com o Arraial de Canudos organizado por Antônio Conselheiro. 

Na época, os rumores eram de que Canudos seria uma revolta monarquista e por esse motivo o governo e todos os intelectuais republicanos apoiavam a todo custo a destruição do Arraial. 

Em meio ao caos, Euclides da Cunha publicou dois artigos chamados “A Nossa Vendéia”, o título remete a uma cidade na França que foi considerada o reduto dos monarquistas na época da Revolução Francesa. 

No primeiro artigo, Euclides faz uma detalhada análise da geografia e da flora da região de Canudos com base em estudos, sem nunca ter ido até o local. E segue comparando o conflito brasileiro com o episódio francês afirmando que nos dois países existia o fanatismo religioso e ingênuo que era manipulado pelos monarquistas. 

No segundo artigo, o jornalista, que se utiliza sempre de linguagem rebuscada, tenta encontrar razões para o fracasso inicial do exército frente aqueles sertanejos. 

… as forças antagonistas irrompem inopinadamente de todas as quebradas, surgem de modo inesperado... das serras, nas orlas ou nas clareiras das matas e, fugindo sistematicamente à batalha decisiva, diferenciam e prolongam a luta, numa sucessão ininterrupta de combates rápidos e indecisos. 

Já nesses primeiros artigos Euclides se refere aos sertanejos com o termo jagunços. Ao mesmo tempo, o autor se mostra, desde o início, curioso com a bravura e o fanatismo desses homens e os descreve em certo trecho: 

O jagunço é uma tradução justalinear quase do iluminado da Idade Média. O mesmo desprendimento pela vida e a mesma indiferença pela morte dão-lhe o mesmo heroísmo mórbido e inconsciente de hipnotizado e impulsivo. 

Euclides é assumidamente republicano e apesar de considerar misteriosa e até mesmo admirar a figura do sertanejo, o jornalista, cegamente exaltado com o seu ideal, não consegue perceber o tamanho da atrocidade que está sendo cometida em Canudos. Ele acreditava que o exército defendia o progresso e, por isso, venceria destruindo o arcaico. 

Texto: Marina Fontanelli 
Apresentação: Giovani Vieira e Marina Fontanelli



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