sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Programete 44: A imprensa e o Golpe de 1964


O golpe de 1964 desencadeado pelas forças armadas não foi resultado apenas da ação dos militares. Diversos setores da sociedade civil participaram das conspirações contra o governo João Goulart. Desde 1961 já havia grupos organizados para fazer oposição com intenções de usar estratégias antidemocráticas e até ilegais. Grande parte da imprensa brasileira compartilhou do pensamento que o comunismo iria dominar o país e defendeu o golpe por considerar que estava ajudando a salvar a democracia. 

Um exemplo foi a atuação da Folha de S.Paulo. As notícias do ano de 1964 indicam o apoio do jornal à ação dos militares. No dia vinte de março foi noticiada a ocorrência da Marcha da Família ocorrida no centro de São Paulo. Ouça o primeiro parágrafo da matéria que tinha como título São Paulo parou ontem para defender o regime. 

A disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos os recantos da pátria para defender a constituição e os princípios democráticos, dentro do mesmo espírito que ditou a revolução de 32, originou ontem o maior movimento cívico já observado em nosso Estado: “Marcha da Família com Deus, pela Liberdade”. 

Outro exemplo semelhante foi a atuação do jornal Estado de S.Paulo. Júlio de Mesquita Filho, o seu diretor, reunia-se com outros empresários, profissionais liberais, intelectuais e com militares para planejar o golpe. A atuação do empresário deu-se fora e dentro das redações. 

No dia Quatorze de março de 1964, o diário noticiou o comício de João Goulart ocorrido no dia anterior em frente à estação Central do Brasil no Rio de Janeiro. Um dos títulos dizia: Foi farto o material subversivo no comício. A matéria destacou a presença de trabalhadores, sindicalistas com faixas e cartazes defensores de propostas comunistas, nacionalistas e estatizantes. 

No dia vinte de março de 1964 o jornal estampou o título Enquanto há liberdade, embaixo havia imensa foto da Marcha da Família também noticiada pela Folha de São Paulo. A legenda da foto dizia: 

Meio milhão de paulistanos e de paulistas manifestaram ontem em São Paulo, no nome de Deus e em prol da Liberdade, seu repúdio ao comunismo e à ditadura e seu apego à Lei e à Democracia. Neste momento particular da vida do mundo, o histórico ato dos paulistas adquire importância internacional. 

No dia primeiro de abril o Estado de S.Paulo continha títulos defendendo e explicando as justificativas do golpe, um deles, afirmava: São Paulo e Minas Levantam-se pela lei, Era preciso assegurar a legalidade, diz Magalhães Pinto. Anos depois, a Folha mudaria o posicionamento apoiando movimento de oposição e de abertura. A partir de 1968, O Estadão resistiria à censura da imprensa feita pelos militares. Ambos tentaram apagar da memória social a responsabilidade de ter apoiado o golpe e rompido como os preceitos da democracia. Não podemos nos esquecer disso.

Texto: Célio J. Losnak
Apresentação: Jaqueline Casanova e Marina Fontanelli

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