quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Programete 48: Imprensa Alternativa – O Pasquim


Em junho de 1969, a ditadura militar governava com plena autoridade, vigoravam o AI-5 e a Lei de Segurança Nacional. Os jornais eram censurados e ameaçados, pessoas eram presas ilegalmente e mortas. Apesar do cenário adverso, um grupo de jornalistas cariocas resolveu criar um jornal livre, irreverente, divertido e alternativo à grande imprensa. 

O grupo era chamado de a patota. Ele não se considerava uma empresa, não havia editores na redação, não havia chefia, cada um escrevia como queria. Era uma forma não burocrática de organização. A primeira edição saiu no dia 26 de junho de 1969 com baixa tiragem. Naquele momento, participavam Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Carlos Prósperi e Claudius Inicialmente, Jaguar havia imaginado o projeto como um jornal para o bairro de Ipanema do Rio de Janeiro. Porém, a visão crítica e inovadora passou a ser compartilhada por jovens de todo o país. Com quatro meses, a patota comemorava a tiragem de 100 mil exemplares e, em menos de um ano, o número de 225 mil exemplares. 

O sucesso era extraordinário. O Pasquim revolucionou a linguagem impressa, escrevia como se falava em Ipanema. A oralidade passou a ser marca registrada do jornal, palavrões eram permitidos e neologismos como “putsgrilla” e “sifú” foram incorporados no cotidiano dos leitores. O formato tablóide também era inovador para época. Nomes como Millôr Fernandes, Fortuna, Sérgio Augusto, Ziraldo, Henfil, Ivan Lessa, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel aderiram ao grupo, além de muitos outros colaboradores famosos como Moacyr Scliar, Chico Buarque, Glauber Rocha, Caetano Veloso e Gilberto Gil. 

O jornal trazia uma grande entrevista, na maioria das vezes, com personagens de oposição ao governo, músicos, artistas ou intelectuais; trazia também: os artigos corrosivos de Paulo Francis; as charges do rato Sig, criação de Jaguar em referência a Sigmund Freud; as tiras do chopnics, mistura dos beatniks com chopps. 

No início, O Pasquim não era um jornal propriamente político, era um jornal de deboche, de contestação, indignado com o conteúdo dos outros jornais. O Pasquim era alternativo à cultura de ordem e à cultura oficial de esquerda. Apresentava os novos valores da juventude, da contracultura e defendia a liberdade total do individuo. 

Apesar de ser considerado um símbolo da liberdade de expressão, outros periódicos alternativos o acusavam de machista e falsamente libertário na questão da homossexualidade, uma das razões da crítica era os frequentes deboches com feminismo. 

Em março de 1970, foi colocada uma bomba na sede do jornal, que felizmente não chegou a explodir. Os jornalistas entenderam como uma represália à entrevista com Leila Diniz que falou abertamente sobre sexualidade. Em junho, do mesmo ano foi instaurada a censura prévia. Os humoristas se utilizavam de divertidas estratégias para tentar driblar a censura. E em PRIMEIRO de novembro, os policiais do DOI-CODI invadiram a redação e prenderam quase todos os jornalistas presentes. E durante dois meses o jornal saiu devido ao trabalho de colaboradores. 

Até 1975, a censura prévia controlou e dificultou os trabalhos. Com isso, as vendas caíram e as dificuldades financeiras aumentaram. O modo anárquico de administração também trouxe atritos e prejuízos. Os membros foram lentamente deixando o jornal. Ficaram no controle Ziraldo e Jaguar até 1982. 

Nessa data, Ziraldo saiu. E no decorrer da década de 1980, a tiragem foi minguando sob domínio de Jaguar. Em 1988, ele vendeu o jornal que já não tinha expressão. Publicava apenas três mil exemplares. Foi uma morte lenta até o fechamento, no início da década de 90. O Pasquim ajudou a propagar uma mudança comportamental no país. Também inspirou outros jornais alternativos. Paulo Francis disse: “O jornal era uma brincadeira num tempo triste”. Os tempos mudaram e o jornal também.

Texto: Marina Fontanelli
Apresentação: Giovani Vieira e Jaqueline Casanova

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