Na segunda metade do século 19, perto do final da escravidão no Brasil, alguns jornais de São Paulo anunciavam fuga de escravos. Era um serviço prestado ao proprietário que buscava o escravo fujão por meses e até anos. Os anúncios chamam a atenção pela forma como o negro era descrito, com particularidades físicas, morais, pessoais, profissionais e intelectuais.
Um anúncio publicado no Correio Paulistano no ano de 1874 diz assim:
“Fugiu da fazenda de Francisco Prudente, da cidade de Casa Branca, o escravo Deolindo. Natural da Bahia, ele tem sinais de castigo nas nádegas, é alto, tem corpo regular,..., idade de 40 anos mais ou menos, fugiu com ganchos e deve ter sinais de ferros nos braços e pés” .
Outro exemplo do mesmo jornal Correio Paulistano, agora em 1886, trata da fuga de uma escrava assim retratada:
“De José Antonio de Souza residente em Itu fugiu há cinco meses a escrava Balbina, mulata de 50 anos, estatura pequena, rosto comprido, cabelos não bem pretos, bonita figura, prosa de corpo, bons dentes, fala com doçura e em uma das faces, abaixo do olho, tem uma cavidade mui pequena”.
O próximo anúncio foi publicado no Jornal Província de São Paulo de março de 1887:
“Fugiu Américo, crioulo de 38 a 39 anos, alto e bem feito de corpo, bons dentes, costuma fazer a barba, usa bigode, conversa bem, traja bem, é bom carpinteiro e pedreiro, leva consigo algum dinheiro seu, é bonito e é escravo de estimação”.
Por meio de registros como esses percebemos diferentes relacionamentos entre senhor e escravo. Havia intimidade, afetividade, castigo e distanciamento. Mais de 100 anos depois, a imprensa torna possível conhecermos estes detalhes da história do Brasil.
Texto: Célio Losnak
Locução: Ana Carolina Costa, Giovani Vieira e Célio Losnak
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