segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Programete 40: Imprensa Operária III


Um importante jornal operário paulista do início do século XX foi A Lanterna. Fundado em março de 1901, ele teve como primeiro diretor Benjamin Mota, criador de outras publicações de esquerda como O Libertário e O Rebelde. 

Após a produção de sessenta números, o jornal “A lanterna” encontrou dificuldades e parou de circular em 1904. Esse problema era compartilhado pela maior parte da imprensa operária. Falta de verba para financiamento, riscos de prisão e confisco faziam parte do cotidiano dos redatores. Periodicidade irregular e vida curta ameaçavam as publicações que eram conduzidas por pequenos grupos. 

A Lanterna não circulou entre 1904 e 1909, quando voltou a ser publicada sob a direção do operário gráfico Edgard Leuenroth. Mais tarde, em 1916, aconteceu outra paralisação. As atividades foram reiniciadas por Edgard somente em 1933 com a publicação de mais 48 exemplares até 1935, quando encerrou as atividades. 

A Lanterna era em formato tabloide, com quatro páginas e as matérias eram distribuídas em seis colunas. Durante sua existência, a publicação passou por diversas transformações políticas, econômicas e sociais decorrentes do período políticos, da República Velha e do governo de Getúlio Vargas. 

O jornal era de linha política anarquista e de cunho anticlerical, ou seja, fazia campanha contra a Igreja Católica. Posição muito comum entre os anarquistas da época. O pensamento libertário considerava que a Igreja e o Estado eram dominadores da sociedade e principalmente dos trabalhadores. Por isso, o cabeçalho estampado no alto da primeira página constava: 

A Lanterna 
Anticlerical e de Combate 

Na primeira página da edição de três de outubro de 1914 podemos identificar um exemplo do anticlericalismo. O tipo de texto é inadequado para os tempos atuais, mas significativo para a época. O redator critica a explicação que o Papa Bento XV teria dado para o surgimento da 1º Grande Guerra Mundial. Ouçamos um trecho: 

“A primeira vez que a sacratíssima guela de Bento XV falou aos torpes da terra, tão grande asneira disse que bem melhor seria não se destapasse nunca. Afirmou bentinho que a causa fundamental da guerra europeia é a irreligiosidade dos povos europeus.... Ora...quem declarou guerra à Servia? A catolicíssima e religiosíssima Áustria”. 

A despeito de polêmicas, A Lanterna foi um bom exemplo da imprensa operária, que abria espaço para os grupos minoritários expressar opiniões contrárias às grandes instituições dominantes.

Texto: Beatriz Haga e Célio J. Losnak
Apresentação: Giovani Vieira e Jaqueline Casanova

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