segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Programete 41: Imprensa Operária IV


Os jornais operários do início do século XX eram diferentes dos jornais convencionais por vários motivos. Um desses motivos é que eles não funcionavam como uma empresa. Precisavam manter-se financeiramente, mas a arrecadação era apenas para sustentar a publicação e não para gerar lucro. Outro aspecto era que os redatores não iam atrás da notícia. Era a própria classe ou o sindicato e associação que buscavam o jornal para veicular informações e notícias. 

O principal objetivo desses jornais era a organização política dos operários. E um dos caminhos para isso era a formação doutrinária e intelectual. Como exemplo, em 1914, o jornal paulistano e anarquista A Lanterna anunciava que ele mesmo vendia livros para colaborar com a formação cultural e política dos leitores. Havia obras em português, italiano, espanhol e francês e vários escritos por autores anarquistas famosos. Ouçamos alguns exemplos de títulos: 

Almanaque do Livre Pensador, A Burguesia e o Proletariado, Catecismo Ateu, Programa Socialista Anarco-revolucionário e Entre Camponeses de Errico Malatesta. O Comunista Anárquico, de Pedro Kropótkine e La Educacion Sexual - Conferência pela professora Raquel Camada. 

Foi noticiado também um projeto de expansão de leitores para além da capital paulista. Na edição de treze de outubro de 1914 há uma nota informando que um representante do jornal irá percorrer cidades à beira da Companhia Paulista de Estradas de Ferro para acolher novos assinantes. As localidades citadas eram: Araras, Pirassununga, Descalvado, Santa Rita do Passa Quatros e Rio Claro. 

Essa estratégia visava expandir a causa anarquista e indicava que o movimento operário organizado podia existir no interior. O jornal anarquista La Battaglia noticiou, em dezoito de maio de 1912, sobre uma greve de colonos em Ribeiro Preto. O movimento realizado por setenta famílias e ocorrido em doze fazendas reivindicava aumento do pagamento do café colhido. Depois de oito dias de paralisação, os trabalhadores conseguiram o exigido. 

Além dos elogios o jornal destacou a estratégia de mobilização utilizada pelos grevistas. 

Desta vez não se adotou o sistema de cabeças ou chefes porque isso seria reduzir à miséria ou à perseguição alguns dos membros mais caros dessa união. Procedeu-se por grupos de quatro a cinco famílias de acordo com a amizade desses grupos, havendo não um chefe para esse grupo, mas sim apenas uma família encarregada para transmitir os pensamentos do diretório secreto que era quem resolvia todas as pendências. 

Apesar da mobilização o movimento anarquista perdeu força e tornou-se inexpressivo no decorrer das décadas de 1920 e 1930. Como conseqüência, a multiplicidade de jornais operários também foi reduzida no período. A imprensa como importante forma de expressão e de luta minguou no decorrer do século XX. 

Texto: Célio J. Losnak
Apresentação: Giovani Vieira e Jaqueline Casanova

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